quarta-feira, 9 de abril de 2008

O Esplendor e a Miséria do Citrato de Sildenafil


Agora a sério, a entrada em cena do Viagra, mexeu com muitas cabeças!
Não, não é dessas que estão a pensar, estou a falar de mentalidades…
De um momento para o outro a idade deixou de pesar, nestas coisas do sexo, e muito reformado voltou a ter vinte anos outra vez.
Ouve-se dizer pelas ruas:
- Os velhos estão todos doidos com o Viagra!
É vê-los até às tantas da noite, a correr as discotecas de norte a sul do país, em busca de um pretexto para gastarem mais um comprimidinho azul, que apesar de caro (e não comparticipado!), é o dinheiro que dão por mais bem empregue.
O negócio tem sido tal que o mercado está já cheio de falsificações.
Não se iluda, o sítio do Viagra é bem claro: não aceite imitações… Só Viagra garante os efeitos desejados!
Mas a Internet está a pulular de alternativas, e nem sequer falo dos afrodisíacos tradicionais à venda nas lojas de produtos naturais, mas sim de medicamentos, usando substâncias activas alegadamente semelhantes ao Viagra (sildenafil, tadalafil, vasdenafil, etc, etc), que dizem não só repetir, mas até melhorar os efeitos já milagrosos da famosa e azul pílula masculina.
Até genéricos do Viagra já se vendem na Internet! Assim não há desculpas para o Estado se eximir a financiá-los.
Estou a imaginar as filas à porta da Caixa…
- O senhor também sofre da coluna? – Pergunta amistosa a velhinha.
– Não, estou na bicha do Viagra! – Responde-lhe confiante o pensionista. – Quer dar uma cambalhota mais logo?
- Olhe, até era capaz de me fazer bem aos bicos de papagaio!
Desde pastilhas com sabor a mentol, que o homem pode tomar informalmente em qualquer local, sem que ninguém suspeite das suas intenções, até comprimidos que, ao invés de garantirem as quatro horas de efeito, prometidas pelos técnicos da Pfizer, prolongam-no até períodos impressionantes como 24 horas e mais!
Mas será necessário manter uma erecção durante 24 horas?
Quem são estes cidadãos idosos que querem andar um dia inteiro de arma apontada às inocentes transeuntes, pelas ruas das nossas cidades?
É uma verdadeira revolução senil!
Uma busca atenta pela nossa imprensa começa já a dar nota dos efeitos sociais graves desta febre do Viagra.
Famílias desfeitas por idosos que gastam as reformas todas nestes feijões mágicos da actualidade, que à semelhança dos da história infantil, garantem levá-los até às nuvens numa única noite para enfrentar quixotescamente os gigantes da sua sexualidade perdida.
Abandonam as pacatas esposas, enquanto fazem croché nos seus lares à beira do colapso, para embarcarem em aventuras sexuais duvidosas, seduzindo e aliciando jovens, perante o olhar atónito da família e da sociedade, face ao comportamento irresponsável dos velhotes.
E claro, surgem de imediato as soluções óbvias (como toda a gente sabe não há nenhum português que se preze, que não tenha logo uma mão-cheia de soluções para todos os males que afligem o mundo e que geral e invariavelmente começam pela frase: se fosse eu que mandasse, andava tudo nos eixos…).
Há que avisar as mulheres dos perigos que correm! Se encontrarem um macho desconhecido e já entradote numa discoteca, que se mantenha firme por várias horas, desconfiem… Revistem-lhe os bolsos (não para lhe roubarem a carteira, claro!) pois quase de certeza vão encontrar uns comprimidos azuis naquele bolso de dentro… esse mesmo, o mais escondido.
Senão comem gato por lebre!
Dizem os velhos do Restelo (que como é sabido, não usam Viagra…), que o melhor é as mulheres estarem mais atentas às boas e velhas qualidades, como o saber, o carácter, a personalidade, a lealdade, a inteligência ou a sabedoria que, até mais ver, não se vendem nas farmácias!
Eu não questiono o valor das citadas qualidades, importantes e fundamentais em qualquer ser humano. Contudo, e para o efeito desejado, têm uma falha insubstituível para qualquer mulher: não provocam orgasmos.
Por isso, chamem-me descrente, mas são um pobre substituto para o Viagra! Não acham? (Siiiiiiiiim! Gritam as mulheres em uníssono!)
Os apologistas do citrato de sildenafil não tardaram a vir em sua defesa, acusando os detractores de terem uma visão balzaquiana da questão (não me perguntem o que é que quiseram dizer com isto, eu até já li um ou dois romances do simpático Honoré, mas em nenhum falava do Viagra – se calhar é nas edições mais modernas – mas lá que fica bem, ninguém desmente!).
Talvez queiram chamar a atenção para a visão romântica expressada por estes velhos teimosos, que querem sempre ver misérias atrás dos esplendores das mudanças trazidas pelo progresso científico.
Por essa lógica devíamos andar todos a pé, porque o automóvel é desnecessário, ou abandonar os telemóveis porque, até aparecerem, nunca fizeram falta a ninguém!
À mulher pouco importa se a erecção do marido é natural ou artificial. A verdade é que lhe dá mais orgasmos e isso, em última análise, é o que lhe interessa.
Se vamos recusar o Viagra porque proporciona aos casais sexo “artificial”, temos também de recusar outros medicamentos que, “artificialmente”, nos vão mantendo vivos, cada vez por mais anos…
Passamos a esticar o pernil aos cinquenta, como acontecia há uns séculos atrás. Morremos cedo mas puros… e garantimos um lugar no céu (é sobejamente conhecida a aversão de São Pedro aos pensionistas que gastam as magras reformas em citrato de sildenafil, em tadalafil ou vasdenafil ao invés de as gastarem em galantamina ou donepezil).
Mas o Viagra traz outras vantagens.
Após experiências perpetradas em ratos de laboratório os cientistas da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, concluíram que o sildenafil aumenta a libertação no cérebro (cerca de três vezes mais) da oxitocina, também chamada "hormona do amor".
Esta substância aparece durante a amamentação para criar a ligação especial entre a mãe e o filho, assim como nos casais apaixonados.
Desta forma, o Viagra parece ter "efeitos físicos, além do de permitir um maior fluxo sanguíneo para os órgãos sexuais", tornando consequentemente os seus consumidores mais carinhosos e apaixonados…
E não pensem que só serve para os homens. Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no Brasil, ministrou sildenafil a 22 mulheres em idade pós menopausa e com um historial de disfunção orgásmica e concluiu que as pacientes melhoraram a sua vida sexual. Aumentaram a circulação sanguínea na região pélvica e relataram uma maior intensidade de orgasmos e maior sensibilidade do clítoris.
Afinal alguns estudiosos dizem que o clítoris não é mais do que um pénis em miniatura, pelo que faz todo o sentido o Viagra causar-lhe efeitos semelhantes aos que provoca no pénis!
Tenham contudo muito cuidado. Com a geração mais velha a gastar fortunas em afrodisíacos e recebendo as reformas miseráveis que recebe, podem surgir perigos inesperados.
Como se conta numa das muitas anedotas inventadas a propósito do Viagra, não gastem tudo no sexo. Guardem algumas economias para os já citados inibidores da acetilcolinesterase.Senão ficam com erecções de vinte e quatro horas, mas devido aos efeitos do Alzheimer, não sabem muito bem o que fazer com elas!

1 comentário:

Mike Allison disse...

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