quarta-feira, 9 de abril de 2008

Parafílicos do Mundo, Uni-vos…


Parafilia consiste, para os sexólogos, num padrão de comportamento sexual no qual a fonte predominante de prazer não se encontra na cópula, mas em qualquer outra actividade.
Depois de reprimidas durante séculos, hoje as parafilias são geralmente consideradas como inofensivas, parte integrante do cidadão comum, salvo quando dirigidas a objectos potencialmente perigosos, danosos para o sujeito ou para os outros.
Existem centenas de comportamentos parafílicos, na sua maioria inofensivos e praticáveis dentro dos contornos legais vigentes, que podem manifestar-se tanto nos homens como nas mulheres, frequentes aliás na maioria dos seres humanos.
As considerações relativas ao comportamento parafilico dependem sobretudo das convenções sociais reinantes num dado momento histórico, pelo que têm sofrido enormes alterações, desde que o fenómeno começou a suscitar interesse científico.
Práticas como a homossexualidade, o sexo anal, oral ou até mesmo a masturbação já foram consideradas parafilias. Hoje são julgadas, pela comunidade médica, como formas normais de expressão sexual (embora na boca do povo e nalgumas culturas, ainda ganhem acessos de aceso repúdio, quando não de criminalização).
Atendendo à variedade e mutabilidade do conceito de parafilia, à luz da cultura e momento histórico em que os comportamentos são analisados, é praticamente impossível elaborar um catálogo definitivo destes comportamentos sexuais.
Mas com a ajuda da Internet é possível tentar…
É que muitos destes comportamentos são objecto de iniciativas cibernáuticas variadas, tais como a organização de sítios ou clubes dedicados àqueles que partilham um desejo sexual diferente, e que se contam aos muitos milhares, espalhados pelo mundo fora.
Toda a gente conhece algumas das parafilias de maior sucesso, como o sado-masoquismo, o exibicionismo, o fetichismo ou o voyeurismo.
Mas há algumas especialidades mais curiosas que não resisto a partilhar convosco.
Uma das mais fascinantes, na minha modesta opinião, é o fetiche por balões. Os seus membros são conhecidos, nos meios internautas, como looners.
Há sítios e clubes organizados por todo o mundo, dedicados à adoração sexual de balões. Podem ser feitos de látex, de bexigas de animais (mortos, de preferência) ou meros balões de aniversário, mas dão prazer a milhares de pessoas por todo o mundo!
Dizem os entendidos que este fetiche é adquirido na infância, quando o portador começa a sentir uma fascinação por esses objectos e passa a desejá-los sexualmente ou a excitar-se ao ver pessoas do sexo oposto brincando com balões.
Muito cuidado, portanto, ao fazerem as decorações para as festas de aniversário dos vossos filhos. O excesso de balões poderá determinar a sua orientação sexual em adultos. E a culpa vai ser toda vossa!
Os looners são sobretudo homens e constituem uma comunidade crescente que se reúne regularmente para, lascivamente, apreciar fotos de mulheres nuas segurando balões, ou sentando-se sensualmente à sua volta…
Quando virem fotos dessas na Internet, ou nalguma revista, não se admirem nem questionem o gosto artístico do fotógrafo. Trata-se de cuidadas teatralizações destinadas a satisfazer os mais requintados looners do planeta.
Agora não digam que não aprenderam nada com este texto. Quando virem balões, lembrem-se do modesto autor e do seu hercúleo esforço para melhorar, despretensiosamente, a educação sexual dos simpáticos (e pacientes) leitores!
Mas há mais…
Uma parafilia menos usual nos dias que correm, mas que já teve os seus dias áureos, é a agalmatofilia ou agalmatoerastia. Uma prática não menos fascinante que envolve a obtenção de prazer sexual pela observação ou contacto com estátuas.
Daqui resulta clara a razão pela qual os puritanos do período romântico se dedicaram, de forma tão obstinada, a cobrir os sexos das estátuas e pinturas renascentistas com parras…
Um provável surto de agalmatófilos, imbuído dos ideais revolucionários franceses e liberais, teria de outra forma atentado, irremediavelmente, contra o pudor da comunidade e a integridade artística de obras legadas para a posteridade por génios parafílicos como Miguel Ângelo ou Rafael!
Foi a pronta e eficaz intervenção desses heróicos puritanos que salvou, para gáudio das gerações futuras, obras ímpares da arte ocidental, de serem para sempre perdidas na fúria lasciva de antepassados sequiosos de paixão agalmatófila.
Ainda que nunca possamos vir a apreciar a beleza dalguns dos mais belos seios, púbis e pénis da história da arte, bem hajam por isso… pois de outra forma não haveria nada para apreciar!
Nesta época em que as preocupações ecológicas assumem, finalmente, uma importância crescente na vida de todos nós, convém não esquecer os anemófilos.
Esta respeitável comunidade comunga da natureza enquanto exprime a sua sexualidade, porquanto se estimula com o vento, o sopro (ou uma mera corrente de ar) nos genitais ou noutra zona erógena do corpo.
Não se surpreendam portanto se um dia o(a) vosso(a) parceiro(a) vos pedir para lhe soprar nalguma parte mais íntima do corpo. O melhor é desfrutar… Se tiverem um balão ao pé (ou à mão…) podem divertir-se a dobrar, realizando simultaneamente as vossas mais inconfessáveis fantasias anemófilo-loonisticas.
Se a sua paixão sexual se expressar melhor no campo, saiba que é um agrófilo. Mas se tanto lhe faz o campo como a cidade, sentindo ao invés um desejo incontrolável pela prática do coito em lugares públicos, preferencialmente ao ar livre, saiba que os psiquiatras lhe chamam um agoráfilo… (sempre é melhor do que um porcalhão, como costumam chamar algumas senhoras!).
Um coreófilo não resiste, sexualmente, a uma dança bem coreografada.
Pelo contrário um espectrófilo é eroticamente dependente do Além, pois não resiste à sensualidade inigualável… de uma alma do outro mundo.
Não se trata de cadáveres, pois nesse caso estaríamos perante um necrófilo, comportamento observado como costume comum (às vezes até sacralizado) em certas tribos africanas e asiáticas, bem como em manifestações esporádicas na chamada civilização ocidental.
Um espectrófilo gosta mesmo é de fantasmas e aparições. O seu fetiche são as fantasias mórbidas com o sobrenatural…
Quem nunca fantasiou ter sexo apaixonado com uma sensual aparição espectral que nos gela até ao pescoço e, simultaneamente, nos transporta até ao Nirvana do sexo, geralmente em estilo gótico?
Eu não, graças a Deus! Mas há quem diga que sim!
A leitora alguma vez se sentiu incomodada, nos transportes públicos, por um homem que teima em se encostar a si, apesar do autocarro ir vazio?
Ainda não?
Se isso acontecer saiba que está perante um frotteurista. Um individuo que se estimula sexualmente pela fricção dos seus genitais no corpo de uma pessoa completamente vestida (prática também conhecida como encoxar).
Se tal acontecer dispa-se imediatamente!
Um frotteurista fica completamente desarmado perante a nudez… O seu único prazer é o contacto com as elaboradas fibras que compõem o vestuário humano!
Se ao despir-se atrair um ou vários agoráfilos que, por coincidência, tivessem também apanhado o eléctrico, não se preocupe… se a leitora for uma exibicionista. Caso contrário será melhor sair na próxima paragem!
Se alguma vez for ao circo e o vizinho do lado começar a arfar e a babar-se quando entrarem em pista os anões malabaristas, saiba que está sentado ao lado de um nanófilo!
Se, pelo contrário, o leitor está desejoso de conhecer mulheres e nenhuma lhe liga, saiba que escolheu a leitura certa para resolver o seu problema. Basta deixar crescer a barba…
Uma das parafilias mais comuns nas mulheres é a pogonofilia, que consiste precisamente no fetiche sexual por barbas (mesmo que, por debaixo destas, esteja uma cara feia e totalmente desprovida de interesse, como por exemplo a minha …).
Não percebia porque é que alguns homens arranjavam top-models para namoradas e a si só lhe calhavam mamarrachos? Aqui está a prova em como a cultura pode melhorar a sua vida sexual.
De uma forma mais genérica o fetiche por pêlos designa-se tricofilia.
Apesar da sua mulher gastar fortunas (e passar as passas do Algarve) a depilar-se, saiba que a Internet está cheia de sítios dedicados a mulheres que há vários anos não se depilam (às vezes nunca o fizeram na vida…).
Razão mais do que suficiente para levar alguns homens ao êxtase.
É famosa, aliás, uma personagem cinematográfica, criada por João César Monteiro, cujo hobby consistia no coleccionismo de pêlos púbicos femininos. A jóia da sua colecção era um pentelho centenário da Rainha Vitória de Inglaterra… Gostos!
E estas são algumas das mais ligeiras parafilias…
Vou-me escusar de mencionar outras, susceptíveis de impressionar os espíritos mais sensíveis nesta delicada matéria, remetendo os leitores mais curiosos para uma pesquisa aprofundada à extensa documentação publicada na Internet, essa enciclopédia virgem do conhecimento humano.
Ficou chocado com esta didáctica visita guiada aos meandros da sexualidade humana alternativa?
Apetece-lhe fugir dos seus pérfidos semelhantes, capazes de qualquer coisa para alcançar prazer sexual, e refugiar-se numa ilha deserta, longe de tudo e de todos?
Bom, se isso lhe der prazer, saiba que também sofre de uma parafilia, a que os especialistas denominaram nesofilia!

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