sexta-feira, 25 de abril de 2008
Pansexualidades
Num episódio da divertida série “Sexo e a Cidade” a personagem Carrie, interpretada pela sedutora Sarah Jessica Parker, arranja um novo namorado mais jovem que, entre beijinhos e abraços, lhe confessa que antes dela viveu com um homem, com quem teve uma relação amorosa intensa e preenchida…
A heroína, carregada de remorsos pela sua “idade avançada” não lhe permitir viver a sexualidade com a liberdade da geração mais nova, decide relevar a estranha confidência, mas dá consigo a pensar como será possível competir com a experiência e permissividade dos mais novos…
Competir com outra mulher ainda vá lá… mas com outro homem! Qual é a mulher com estofo para isso…
Este divertido episódio revela um dos conceitos mais desconcertantes que, em matéria de sexualidade, tem surgido nos últimos anos: o da pansexualidade.
Elevado ao extremo o conceito da pansexualidade não se confunde de todo com a bissexualidade. Não se trata apenas de sentir atracção sexual por indivíduos de ambos os sexos… Isso seria demasiado convencional!
O pansexual vive a sua sexualidade sempre em busca de novas experiências. Não só gosta de homens e mulheres, como anseia por uma experiência transsexual, vive obcecado pelo erotismo de todas as raças e credos (preenche o imaginário com práticas sexuais exóticas, oriundas do Burkina Faso ou da Papua Nova Guiné), e com boa vontade encontra estímulos em qualquer coisa oriunda do reino animal, vegetal ou mineral!
Para os mais maduros, com maior poder de compra e sede de novidades que agitem a sua monótona existência, a oferta começa a ser completa, mesmo no nosso pacato país, habituado a consumir, em segunda mão, todas as novidades que vão surgindo lá por fora…
Os spas são pródigos na oferta de experiências pansexuais: desde as massagens de casal, protagonizadas por algum(a) indígena das índias ocidentais de tanga do tipo fio dental, capaz de elevar ao Olimpo o imaginário erótico do casal médio, até às terapias de vinho, que consistem em besuntar o paciente com uma pasta à base de mosto de uva, que apregoam possuir atributos medicinais e eróticos deslumbrantes, passando pelas massagens de chocolate, basicamente iguais às do vinho, mas em que a pasta usada é composta do mais fino chocolate suíço, branco, mestiço ou negro, à medida das fantasias sexuais de cada um…
As páginas cor-de-rosa dos jornais estão também recheadas de anúncios irrecusáveis de jovens (de ambos os sexos) que exalam exotismo até ao último poro, disponíveis para realizar as mais complexas fantasias pansexuais de escriturários (as) cinzentos(as), de óculos graduados e carteira recheada.
A pansexualidade é assim uma espécie de United Colors of Benetton do sexo… As olimpíadas radicais da sensualidade. Descubra os seus limites e depois tente superá-los!
Basicamente é o conceito de que não hei-de morrer sem experimentar… A maturidade consiste assim, para o pansexual, no acumular de experiências sem limite, sempre no vórtice inebriante da descoberta.
Chamem-me conservador, mas desconfio das potencialidades eróticas da uva ou do chocolate suíço…
É verdade que uma indiana de sari ou uma polinésia a dançar o hula-hula podem suscitar sensações interessantes sob o ponto de vista erótico, mas a diferença cultural é tal que tenho dúvidas, se algum dia chegasse a vias de facto, se não seria surpreendido pela rapariga a puxar-me o nariz ou as orelhas em busca de algum ritual erótico indígena de significado oculto… (como na anedota do swing com um casal de marcianos).
A magia do exotismo aplicado à sexualidade é capaz de gerar milagres, mas a radicalidade da experiência deixa-me sempre desconfiado se não irei acordar empalado nalgum ritual satânico ou circuncidado a sangue frio por algum indígena de longas barbas e uns ténis Nike comprados na feira do relógio!
É o peso da minha bagagem cultural e racionalista a funcionar…
Por isso fico desconcertado com algumas vocações pansexuais que vou vislumbrando à minha volta, designadamente no sexo oposto:
Haverá algo mais sensual do que um jovem dançarino indiano a cantar e a dançar numa daquelas produções típicas de Bollywood?
Um charrinho partilhado entre amigas não será capaz de gerar sensações indescritíveis, quebrar todas as barreiras culturais e levar à experiência sexual de uma vida, digna das orgias dionisíacas da sábia antiguidade clássica?
Um risquito de coca na companhia perfeita não causará orgasmos múltiplos, mesmo no meio de uma discoteca a abarrotar de gente, das mais variadas raças e confissões religiosas?
Quem sabe? A micro tecnologia de hoje é capaz de coisas fantásticas!...
Vejam os telemóveis…
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