quarta-feira, 9 de abril de 2008
Ou Comem Todos ou Há Moralidade…
Homens e mulheres tendem a ver de modo muito diferente as traições conjugais.
Os ciúmes não constituem exclusivo de nenhum dos sexos, nem tão pouco reflectem a reacção de ninguém quando confrontado com uma facada no matrimónio.
Há muito boa gente que não perde uma oportunidade para evidenciar um perturbante sentimento de posse relativamente ao parceiro ou parceira, mas que, se finalmente confrontado com uma violação do dever de fidelidade por parte do(a) consorte, reage da forma mais inesperada, relevando a falta ou reatando a relação após um “luto” mais ou menos prolongado pela sua dignidade ofendida.
Outros levam uma pacata vida conjugal, exalando confiança no parceiro por todos os poros, mas quando persuadidos da infidelidade do mesmo explodem em acessos de raiva que frequentemente acabam em crimes sentimentais julgados nos Tribunais.
Por isso ciúme é uma coisa e infidelidade é outra completamente diferente.
A primeira exprime sentimentos de insegurança na personalidade do seu autor. A segunda desperta uma enorme panóplia de reacções, na maioria das vezes pouco relacionadas com a vida amorosa do casal e muito mais centradas na vivência pública da sexualidade individual.
Ser “corno”, de acordo com a tradição paternalista ocidental, acarreta o opróbrio da sociedade sobre alguém que não soube manter o respeito e amor-próprio na sua relação conjugal. É a suprema castração social do macho que se vê desrespeitado publicamente precisamente pela sua fêmea, aquela que mais respeito e admiração lhe deveria merecer.
O macho paternalista, desconsiderado socialmente, prefere por vezes “lavar” a honra com sangue, nem que por isso passe o resto da vida na cadeia.
Antes preso do que castrado para o resto da vida.
Há registos históricos de comunidades (nomeadamente da região alpina medieval) que condenavam ao ostracismo os machos enganados… A humilhação pública passava por rituais em que os maridos enganados eram despidos, amarrados e exibidos publicamente em cima de um burro, enquanto os transeuntes – incluindo os adúlteros - distribuíam pedradas e vilipêndios em abundância e, finalmente, expulsos da comunidade sem dó nem piedade!
A violência física felizmente desapareceu destes casos, mas a social nem por isso…
Ainda hoje a sociedade patriarcal em que vivemos é particularmente exigente dos machos no que concerne à preservação da fidelidade feminina. Um marido enganado é motivo de farta e jocosa conversa, ridicularizado até ao limite no humor, sendo incontáveis as anedotas e obras humorísticas que vivem dos despojos das infidelidades conjugais femininas.
Já a infidelidade dos homens é muito mais tolerada (apesar das mulheres serem pelo menos tão ciumentas quanto estes).
Uma mulher que tolere as facadas no matrimónio, perpetradas pelo marido, é uma Senhora. A sua dignidade só sai reforçada do incidente.
As suas qualidades são de tal modo enaltecidas que até a podem levar à honra de ser a primeira mulher a ocupar a Presidência da maior potência mundial!
É inegável que, vivendo numa sociedade patriarcal, é muito mais fácil à mulher enfrentar o mundo, sabendo que o marido é adúltero, do que ao homem… E não estou a ser machista!
A mulher torna-se uma vítima da concupiscência masculina. Da testosterona dos maridos que os impele atrás de qualquer rabo de saia que lhes passe à frente dos olhos.
Algo que milénios de civilização não conseguiu impedir e que, por isso, merece toda a compreensão, simpatia e solidariedade do sexo feminino (pois nenhuma mulher está, aparentemente, livre de lhe acontecer o mesmo) e o maior respeito do sexo masculino (por inveja de não ter uma mulher tão compreensiva em casa ou por precaução de lhe poder vir a acontecer o mesmo e ser apanhado pela respectiva consorte nalguma escapada para fora da cerca conjugal…).
Já para os homens as coisas mudam de figura.
Ninguém lhes expressa simpatia, compreensão ou solidariedade (talvez algumas mulheres o façam, mas isso, embora possa ajudá-los a manter os pés quentes à noite, não lhes aumenta o ego nem promove socialmente a sua imagem). O homem enganado só merece simpatia da sociedade paternalista se limpar a sua honra, de preferência a vermelho-sangue! Nesse caso todos os amigos lhe dão uma palmadinha nas costas e até o sistema legal considera as atenuantes do crime, na graduação da pena a aplicar-lhe! Portou-se como um homem. Perdeu a cabeça e limpou o sebo à mulher e ao amante. Nada de mais compreensível… qualquer verdadeiro homem na mesma situação faria o mesmo!
Claro que, “corno” e criminoso condenado, as hipóteses de se candidatar a importantes cargos políticos ficam limitadas, não por falta de simpatia dos eleitores, mas porque é preciso salvaguardar as aparências… Um homem que não soube meter a mulher na ordem não serve para governar, que diabo!
Mas para além das considerações sociais envolvidas no modo como a infidelidade é vista e tratada por homens e mulheres, quer-me parecer que há também alguns aspectos sexuais associados.
Na verdade, se as mulheres ligam muito menos do que os homens ao sexo, não terão também tantas razões para se sentirem ofendidas pelo marido o andar a praticar com outras, sobretudo se em casa as coisas estiverem paradas, nesse particular, há muito tempo.
Para algumas, tradicionalmente, até poderá ser um alívio. Menos uma obrigação doméstica a cumprir e menos uma fonte de conflitos no casal.
E não pensem que essa atitude seria incompatível com a manutenção do relacionamento amoroso… Amor e sexo são coisas muito diferentes e para algumas mulheres o primeiro revela-se de muito maior importância no relacionamento do casal, do que o segundo.
Já para o homem e para as mulheres modernas e desinibidas, que não têm receios de exprimir a sua sexualidade, o sexo é algo de fundamental num casamento. A sua falta pode até nem ser suficiente para pôr todo o relacionamento em causa… contanto que lhes seja permitida a sua obtenção noutras fontes!
No entanto, a perspectiva da mulher ter sexo com outros homens representa uma facada no coração e dignidade do macho.
- Não faz comigo e vai fazer com outro?!
Isso é inadmissível, porque representa a preterição das suas qualidades de amante, a suprema ofensa ao seu instinto de predador e fertilizador nato.
- Se não é para mim, não é para ninguém!
Assim, o problema principal da infidelidade para o homem centra-se na desconsideração das suas capacidades sexuais, símbolo inalienável da virilidade masculina.
A proliferação das práticas de “swing” por exemplo (a famosa troca de casais) não parece afectar a masculinidade de muitos machos latinos, porquanto a “traição” da mulher se dá sob a sua égide e num regime de reciprocidade que até lhe permite aumentar a experiência e prazer sexuais.
Afinal parece que para um homem a sério…ou comem todos ou há moralidade.
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