quarta-feira, 9 de abril de 2008
As Cuecas e as Peúgas
Woody Allen escreveu que a maturidade nada tem a ver com a idade mas sim com a forma como reagimos ao acordar em cuecas no meio da cidade.
Nesta temática sinto-me particularmente maduro porque já experimentei a sensação e confesso que a achei bastante enriquecedora…
Passo a explicar. Certo dia, tinha um julgamento em Lisboa e levantei-me cedo para me deslocar ao Tribunal.
Após o banho matinal, e para evitar acordar a minha mulher, vesti-me meio às escuras no quarto e desloquei-me, de transportes públicos, até ao Palácio de Justiça.
Qual não é o meu espanto quando, ao passar em frente ao edifício do Corte Inglês, em plena hora de ponta e com centenas de transeuntes a passar, tropeço num par de cuecas que me caíram das pernas abaixo…
A minha primeira reacção foi de perplexidade, porquanto não consegui perceber como é que perdi as cuecas sem dar por isso…
Só depois me apercebi que as cuecas em questão não eram as que vesti de manhã mas sim as do dia anterior que, inadvertidamente, tinham permanecido dentro das calças e, caprichosas, aguentaram toda a viagem até Lisboa, para me reservarem um vexame à porta do maior centro comercial da capital…
Rapidamente, antes que algum ajuntamento se reunisse à minha volta, (é conhecida a capacidade destas peças de vestuário para atrair pessoas…) apanhei-as e introduzi-as, à pressa, na mala.
Ri-me sozinho da situação e esqueci por completo o incidente, preocupado com os meus afazeres profissionais mais imediatos.
Mas a aventura ainda não tinha terminado… para mal dos meus pecados.
O apressado esconder da minha vergonha na pasta de trabalho, garantiu-me um segundo round de vexame público quando, em pleno julgamento, fui retirar o processo que me tinha levado nesse dia ao Tribunal e, por apenso ao mesmo (e com vista ao Ministério Público, Magistrada Judicial e demais presentes…), as malfadadas cuecas da véspera fizeram uma reentrada triunfal em cena e em plena sala de audiências!
Sem grandes explicações, não me restou alternativa senão voltar a guardá-las apressadamente na mala e tomar consciência de que tinha ganho uma história para contar aos amigos, em noites de paródia.
Na verdade, a história tem feito sucesso.
Mas também me tem levado a pensar o que é que as pobres cuecas têm de tão extraordinário para causar, quer o meu embaraço da altura, quer os momentos hilariantes que se lhe seguiram.
Ainda se fossem uma ceroulas…
Mas agora mais a sério, porque será que temos tanta vergonha das cuecas e das peúgas? Acaso não é algo que quase toda a gente usa (os que não usam são objecto de acesa discriminação social, o que, convenhamos, só abona o argumento)?
E o riso que provoca o episódio é mais uma demonstração de que não existem limites à estranha comicidade causada pela roupa interior, fruto da sua estreita ligação (dependendo do modelo e do tamanho escolhido) às nossas vergonhas.
Nos preliminares do sexo, um homem deve ter um cuidado extremo ao despir-se, pois não há nada mais ridículo, segundo os cânones da sensualidade masculina, do que ficar nu, só de cuecas e peúgas, em frente à mulher amada…
Não há erotismo que resista, é gargalhada na certa e um balde de água fria nas nossas aspirações!
Já uma mulher nua, só de cuecas e meias (nem que sejam as nossas), constitui uma visão arrebatadora capaz de lançar no êxtase um homem desprevenido e de reacção precoce… e no bom caminho os restantes. É assim uma espécie de código postal do sexo – meio caminho andado para o sucesso.
Sensuais nas mulheres e ridículas nos homens. É esse o papel desempenhado pela cueca e a peúga na sociedade moderna.
E não há nada que, nós homens, possamos fazer a esse respeito!
Por mais caras e modernaças que sejam, as cuecas e as peúgas têm sempre o poder de nos deixar embaraçados nos momentos mais inadequados.
O efeito bombástico que causam na publicidade (onde homens viris exibem cuecas mínimas, acompanhadas de generosos bíceps) fica irremediavelmente esbatido, quando acompanhado das fartas e variadas pilosidades do pater familias tradicional e a respectiva protuberância abdominal, vulgo pneu!
Resta-nos o consolo de, como Woody Allen, amadurecermos com o vexame e conservarmos o sentido de humor necessário para rirmos de nós próprios, quando a vida se encarrega de nos pregar partidas.
E já agora aprendermos a, apressada mas definitivamente, arrumarmos as nossas cuecas no lugar adequado!
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