sexta-feira, 25 de abril de 2008

A Tremura dos Quarenta


Afinal parece que a proverbial atracção dos homens de quarenta pelas raparigas de vinte não resulta de qualquer concupiscência adquirida com os cabelos brancos… É antes a simples constatação da sua incapacidade de acompanhar o ritmo das suas parceiras de quarenta!
Esta afirmação bombástica e polémica não é fruto de qualquer desejo secreto e irresistível de protagonismo mas a simples constatação dos factos vividos e presenciados quotidianamente.
Senão vejamos. Como estão a maioria dos casais à beira dos quarenta? Divorciados, respondem-me de pronto os leitores perspicazes e vividos, ávidos de refutar os meus sismáticos argumentos.
Certo, mas porquê? Qual a razão primordial que ataca indelevelmente os casamentos à beira dos quarenta?
A entrada nos entas é um marco na vida de um indivíduo. Basta fazer contas à vida… Quantos chegam aos oitentas? Muito poucos.
Afinal, parece que passei do meio do filme e continuo sem perceber nada da história…
Nos devaneios da adolescência imaginamos mundos e fundos para a nossa maturidade: riqueza, sucesso, reconhecimento, paixões… Um carro impossível de estacionar, um prémio Nobel da Física, uma vitória no Paris-Dakar. Uma marca fundamental para a nossa existência que se prolongue na História, per saeculo saeculorum…
Ao invés disso o que é que obtemos, na maioria dos casos?
Muitas contas para pagar, uma carreira sem perspectivas e uma gritante falta de paciência para quase tudo o que nos rodeia.
Como a maioria dos homens não tem dinheiro para comprar Ferraris ou disponibilidade para partir numa viagem sem data marcada para explorar o que resta da selva amazónica, as crises de meia-idade são geralmente resolvidas à custa de anti-depressivos!
Bem, pode-se sempre fazer blogues…
E será assim também com as mulheres?
Não há dúvida que apesar de belo e resistente, o sexo feminino não possui o dom da imortalidade, pelo que não vislumbro nenhuma razão para não passarem pelos mesmos dilemas de meia-idade masculinos.
Mas há uma diferença substancial. Enquanto os homens amuam, passam horas no computador ou a acabar com a (pouca) paciência dos que os rodeiam (principalmente das mulheres), a mulher madura não se entrega à depressão.
Numa atitude reveladora de inteligência, a solução feminina para a crise de meia-idade é muito mais positiva: ao invés de se entregar resignada à constatação da sua transitoriedade, parte em frente, em busca do tempo perdido, das coisas que ainda não fez mas gostaria de fazer. Investe em si, no seu aspecto físico, nas amizades que mantém e que constrói e até, por vezes, nos amores e paixões que não teve.
Não admira assim que os divórcios proliferem… Aos quarenta os homens (deprimidos) vitimizam-se, enquanto as mulheres desabrocham. Perdem os medos e os receios que povoaram a sua juventude a afirmam-se, independentes e seguras, na sua autononia, com pouca paciência para as crises existenciais dos maridos e muito mais interessadas em viver a vida madura na sua plenitude. Antes que seja tarde.
Ao homem restam então duas hipóteses.
Acertar o passo com a sua companheira e tentar tirar partido da nova “adolescência” do casal, o que implica uma vitalidade que geralmente já não possui.
Confessar-lhe a sua incapacidade para a acompanhar nos seus “roaring forties” e partir para outra viagem, de preferência com uma vintona de agenda social bem menos exigente e sequiosa do conforto e tranquilidade que a maturidade masculina lhe pode proporcionar.
Esta segunda hipótese, ainda que possa parecer atraente para muitos quarentões, revela contudo, após mais séria reflexão, pelo menos um insuperável dilema…
Se tudo correr bem também ela chegará aos quarenta. E se o homem de quarenta já não tem pedalada para acompanhar uma mulher da mesma idade, o que dizer do homem de sessenta?
E aos sessenta já não será fácil encontrar outra companheira nos vintes…
Será que ainda haverá paciência para os blogues?

Pansexualidades


Num episódio da divertida série “Sexo e a Cidade” a personagem Carrie, interpretada pela sedutora Sarah Jessica Parker, arranja um novo namorado mais jovem que, entre beijinhos e abraços, lhe confessa que antes dela viveu com um homem, com quem teve uma relação amorosa intensa e preenchida…
A heroína, carregada de remorsos pela sua “idade avançada” não lhe permitir viver a sexualidade com a liberdade da geração mais nova, decide relevar a estranha confidência, mas dá consigo a pensar como será possível competir com a experiência e permissividade dos mais novos…
Competir com outra mulher ainda vá lá… mas com outro homem! Qual é a mulher com estofo para isso…
Este divertido episódio revela um dos conceitos mais desconcertantes que, em matéria de sexualidade, tem surgido nos últimos anos: o da pansexualidade.
Elevado ao extremo o conceito da pansexualidade não se confunde de todo com a bissexualidade. Não se trata apenas de sentir atracção sexual por indivíduos de ambos os sexos… Isso seria demasiado convencional!
O pansexual vive a sua sexualidade sempre em busca de novas experiências. Não só gosta de homens e mulheres, como anseia por uma experiência transsexual, vive obcecado pelo erotismo de todas as raças e credos (preenche o imaginário com práticas sexuais exóticas, oriundas do Burkina Faso ou da Papua Nova Guiné), e com boa vontade encontra estímulos em qualquer coisa oriunda do reino animal, vegetal ou mineral!
Para os mais maduros, com maior poder de compra e sede de novidades que agitem a sua monótona existência, a oferta começa a ser completa, mesmo no nosso pacato país, habituado a consumir, em segunda mão, todas as novidades que vão surgindo lá por fora…
Os spas são pródigos na oferta de experiências pansexuais: desde as massagens de casal, protagonizadas por algum(a) indígena das índias ocidentais de tanga do tipo fio dental, capaz de elevar ao Olimpo o imaginário erótico do casal médio, até às terapias de vinho, que consistem em besuntar o paciente com uma pasta à base de mosto de uva, que apregoam possuir atributos medicinais e eróticos deslumbrantes, passando pelas massagens de chocolate, basicamente iguais às do vinho, mas em que a pasta usada é composta do mais fino chocolate suíço, branco, mestiço ou negro, à medida das fantasias sexuais de cada um…
As páginas cor-de-rosa dos jornais estão também recheadas de anúncios irrecusáveis de jovens (de ambos os sexos) que exalam exotismo até ao último poro, disponíveis para realizar as mais complexas fantasias pansexuais de escriturários (as) cinzentos(as), de óculos graduados e carteira recheada.
A pansexualidade é assim uma espécie de United Colors of Benetton do sexo… As olimpíadas radicais da sensualidade. Descubra os seus limites e depois tente superá-los!
Basicamente é o conceito de que não hei-de morrer sem experimentar… A maturidade consiste assim, para o pansexual, no acumular de experiências sem limite, sempre no vórtice inebriante da descoberta.
Chamem-me conservador, mas desconfio das potencialidades eróticas da uva ou do chocolate suíço…
É verdade que uma indiana de sari ou uma polinésia a dançar o hula-hula podem suscitar sensações interessantes sob o ponto de vista erótico, mas a diferença cultural é tal que tenho dúvidas, se algum dia chegasse a vias de facto, se não seria surpreendido pela rapariga a puxar-me o nariz ou as orelhas em busca de algum ritual erótico indígena de significado oculto… (como na anedota do swing com um casal de marcianos).
A magia do exotismo aplicado à sexualidade é capaz de gerar milagres, mas a radicalidade da experiência deixa-me sempre desconfiado se não irei acordar empalado nalgum ritual satânico ou circuncidado a sangue frio por algum indígena de longas barbas e uns ténis Nike comprados na feira do relógio!
É o peso da minha bagagem cultural e racionalista a funcionar…
Por isso fico desconcertado com algumas vocações pansexuais que vou vislumbrando à minha volta, designadamente no sexo oposto:
Haverá algo mais sensual do que um jovem dançarino indiano a cantar e a dançar numa daquelas produções típicas de Bollywood?
Um charrinho partilhado entre amigas não será capaz de gerar sensações indescritíveis, quebrar todas as barreiras culturais e levar à experiência sexual de uma vida, digna das orgias dionisíacas da sábia antiguidade clássica?
Um risquito de coca na companhia perfeita não causará orgasmos múltiplos, mesmo no meio de uma discoteca a abarrotar de gente, das mais variadas raças e confissões religiosas?
Quem sabe? A micro tecnologia de hoje é capaz de coisas fantásticas!...
Vejam os telemóveis…

Algo Onde Me Agarrar…



Apesar das dificuldades já relatadas na determinação exacta do que são características masculinas e femininas em termos estritamente biológicos, os antropólogos já dedicaram muito do seu tempo ao estudo da anatomia dos dois sexos e chegaram a algumas conclusões.
Para além das diferenças sexuais óbvias, os dois géneros parecem ter desenvolvido características anatómicas diversas, resultantes da divisão de tarefas que, biológica e socialmente, se foi consolidando entre eles.
Os homens eram primordialmente caçadores, pelo que nas suas características físicas predominam as capacidades atléticas. Já as mulheres desenvolveram características anatómicas adequadas às funções maternais, mas também às de recolectoras e organizadoras da vida social da comunidade.
O homem é inatamente mais forte, mais alto, mais curioso com a novidade, tem uma visão mais apurada e é mais ágil.
Já a mulher é mais robusta (na medida em que é mais resistente à doença, à mortalidade infantil, à deformação física congénita ou ao acidente), mais cautelosa, tem maior capacidade de verbalização e destreza manual.
São aptidões evidenciadas desde o nascimento e que se prolongam, geralmente, por toda a vida.
Ficamos assim a saber que algumas das características que tanto motivam divergências entre os sexos não são mais do que emanações biológicas e anatómicas de cada um.
Por exemplo, os homens, apesar de possuírem melhor visão do que as mulheres, são imensamente mais propensos a sofrer de anomalopia do que as mulheres. Quer isto dizer que têm muito maiores dificuldades em distrinçar as cores…
Fica assim explicada a razão pela qual as mulheres conseguem distinguir o carmim, o violeta, o bordeaux ou o cerise, entre muitas outras cores que eu, por ser homem, não faço a mínima ideia do que são ou como se chamam!
Por outro lado ficamos igualmente a saber que, biologicamente, as mulheres têm muito maior facilidade em verbalizar as suas ideias do que os homens. Pelo que a sua lendária capacidade de “dar à língua” é inata e componente essencial da sua feminilidade.
Também a tendência irresistível dos homens para mexer no que não lhes diz respeito fica justificada pela biologia. A atávica atracção exercida pelo comando da televisão ou pela mala das ferramentas, ainda que totalmente inconsequente em termos produtivos (a maior parte dos homens, onde humildemente me incluo, tem uma enorme capacidade para estragar quase tudo em que toca), é uma manifestação inequívoca da sua virilidade!
Ser homem é ser curioso e possuir uma enorme ânsia pela novidade tecnológica, seja ela o último modelo de automóvel ou de telemóvel, ou o brinquedo mais recente oferecido ao filho!
Perante a total indiferença suscitada na constância feminina.
Mas a biologia também nos diz que as mulheres possuem, em média, o dobro da gordura dos homens (25% do corpo feminino é composto por gordura, enquanto no homem a percentagem desce para cerca e 12,5%).
O célebre historiador grego Plutarco até relata um episódio macabro que atesta esta incontestável realidade. Parece que na Grécia antiga havia o hábito, aquando da cremação dos cadáveres, de juntar sempre uma mulher a cada dez cadáveres de homens. A gordura das carnes femininas garantia que a pira de corpos ardesse como uma tocha!
Mas a gordura feminina assegura igualmente uma maior resistência da mulher ao frio e à fome, demonstrando assim que, para a natureza, o papel reprodutor da mulher é muito mais importante do que o do homem.
Um homem sozinho pode fertilizar muitas mulheres ao passo que uma mulher sozinha não tem mais filhos pelo simples facto de viver rodeada de homens…
A anatomia humana garantiu assim que a mulher durasse mais, resistisse mais à doença, ao frio e à fome do que o homem, ao que parece perfeitamente dispensável para a sobrevivência da espécie…
A mulher é também menos propensa à depressão profunda e ao suicídio. As estatísticas demonstram que, apesar dos excessos do romantismo, continuam a ser mais os homens do que as mulheres a porem fim à própria vida.
A maior gordura das carnes é por isso uma característica marcadamente feminina, responsável pelas atraentes formas do corpo da mulher.
Razão tinha o povo quando, durante séculos, afirmou que gordura é formosura!
A pressão social exercida sobre as mulheres, no sentido de contrariarem a sua tendência natural para acumular gordura, parece ser um contra-senso que não só põe em causa a sua inata resistência natural, como as torna cada vez menos femininas, no sentido em que as priva das suas formas tradicionais, que tão bem as promoveram junto dos homens ao longo da história da humanidade.
Por isso aqui fica a minha apologia da gordura feminina.
Além de encher muito mais a vista ao homem, sempre proporciona algo onde me agarrar… cada vez mais necessário com o passar dos anos!

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Lobbies


Excepcionalmente vou publicar um texto que não é sobre sexo. Perdoem-me os puristas mas não resisto à tentação (será vaidade?)...
Uma reportagem recentemente exibida pelo The Daily Show, noticiário sarcástico apresentado por Jon Stewart, da responsabilidade da correspondente Samantha Bee e donominada “Wait And Switch”, chamou a minha atenção para um fenómeno da política moderna com contornos dignos dos maiores mestres do surrealismo: o funcionamento dos lobbies no Congresso dos Estados Unidos.
Lobby, em inglês, significa a divisão de entrada num edifício. Politicamente denomina um conjunto de interesses que pressiona os núcleos de poder político para favorecerem determinada empresa ou grupo de pessoas.
Etimologicamente a expressão parece decorrer precisamente dos espaços de entrada nos edifícios públicos onde, tradicionalmente, se juntavam os peticionários, em representação dos mais variados interesses, antes de conseguirem contactar o político capaz de os promover.
Vestígio de um passado situado nos primórdios da democracia, não acha?
Longe disso.
Saiba que é prática corrente no Congresso norte-americano fazerem-se filas com centenas de metros, horas antes da abertura dos respectivos serviços, para se apresentarem petições aos congressistas destinadas a promover os interesses de determinada empresa ou associação.
Mas mais caricato ainda do que a manutenção deste sistema arcaico é o facto de os peticionários serem essencialmente desempregados ou indivíduos de parcos recursos que, em busca de melhores meios de subsistência, se prestam a permanecer longas horas no lobby do Congresso a marcar vez para as poderosas empresas de lobbying sedeadas na capital norte-americana.
Em troca de quantias que rondam os 50 dólares por hora, estes peões do lobbying norte-americano acampam à porta de um determinado congressista, com os seus fatos de treino de marca (afinal de contas a receberem 50 dólares por hora de trabalho, não vivem tão mal quanto isso…), marcando a vez para que, à hora marcada, o tubarão vestido num fato Armani e enviado por uma poderosa firma de lobbying, chegue e seja logo atendido pelo congressista pretendido!
De tal modo esta prática parece chocar os dignos representantes eleitos do povo norte-americano, que foi apresentada uma proposta no Congresso, liderada designadamente pelo congressista do Estado do Tennessee, Steve Cohen, no sentido de a proibir, obrigando a que seja o próprio peticionário e não um pobre diabo, contratado a 50 dólares por hora à porta do Congresso, a permanecer as longas horas na fila.
Escusado será dizer que a proposta obteve forte oposição, não apenas das poderosas empresas de lobbying (que se vêem assim obrigadas a dispor de longas horas de trabalho, provavelmente pagas a valores bem mais significativos do que os 50 dólares por hora, de um importante representante, parado e inactivo à porta dos congressistas) como dos desempregados de Washington que se veriam desta forma privados da sua principal fonte de rendimentos…
Confesso que, após ver esta reportagem, fiquei com uma cara de parvo a pensar no que será mais idiota no meio de toda esta história: se o facto de uma das mais importantes economias dos mundo ainda não ter descoberto que há outras formas de apresentação de petições, para além da oral, se a “inocência” do Congresso norte-americano em acreditar que acaba com os lobbies obrigando os seus representantes a permanecerem longas horas na bicha!
Se quanto ao primeiro aspecto Portugal está quase na mesma, afinal de contas ainda é preciso levantar-se às 6 da manhã e passar longas horas na bicha do posto de saúde para marcar uma consulta médica ou obter uma simples receita para uma Aspirina (apesar dos enormes esforços desenvolvidos em prol dos utentes pelos lobbies farmacêuticos…). Já no segundo estamos muito mais evoluídos do que os americanos. Ninguém acredita no poder dissuasor das bichas. A maioria dos organismos públicos facilita o mais que pode o trabalho dos lobbies, recebendo-os individual, pessoalmente e em hora marcada no conforto e privacidade dos seus gabinetes, poupando desta forma longas horas de trabalho aos grupos em questão (com indiscutíveis benefícios para a economia nacional).
Ainda assim os americanos mostram um pragmatismo assinalável no tratamento da matéria.
Incapazes de acabar com o fenómeno do lobbying decidiram institucionalizá-lo. Não vale a pena andarmos todos a reunir às escondidas, em gabinetes escuros e desconfortáveis, promovendo interesses privados em nome da democracia. O melhor é pormos logo tudo às claras: legitime-se o negócio e marque-se horas decentes para o seu exercício (logo de manhãzinha de preferência, para começarmos todos melhor o dia).
Washington está pejado de firmas de lobbying. A maior, denominada Interpublic Group of Companies, Inc., movimenta cerca de 300 milhões de dólares por ano, num negócio em que só as dez maiores empresas do mercado facturam cerca de 1.300 milhões de dólares.
Uma actividade perfeitamente legítima, com descontos para a previdência, IRS e tudo… Até possuem um site onde, simpática e esclarecedoramente, explicam o modo de funcionamento do negócio, curiosamente denominado publicintegrity.org (integridade pública) – e presumo que não estavam a querer ser sarcásticos!
Segundo esta organização “Center for Public Integrity”, mais de 22.000 organizações e empresas deram trabalho, desde 1998, a 3.500 empresas de Lobbying, as quais empregam mais de 27.000 pessoas!
Entre os seus clientes figuram nomes como a Câmara de Comércio Norte-Americana com gastos na ordem dos 200 milhões de dólares anuais em lobbying, a American Medical Association (92 milhões) ou empresas como a General Electric (94 milhões), a General Motors (48 milhões) ou a AT & T (53 milhões), numa lista onde figuram ainda em destaque a National Rifle Association of America ou a American Israel Public Affairs Committee.
E quem são os profissionais do lobby, junto do poder político norte-americano?
Não podemos esquecer que se trata de uma actividade regulamentada, precisamente para evitar abusos e situações menos claras. Por isso o Lobbying Disclosure Act de 1995 regula de forma rigorosa o acesso e exercício da actividade de lobbying.
Por exemplo ex-membros do Governo ou do Congresso não podem estar ligados ao lobbying… senão um ano após cessarem funções! Mas os seus familiares podem fazer lobbying em qualquer altura! Mesmo quando o pai, a mãe, o marido ou a mulher exercem funções públicas…
Ainda segundo o denominado Centro de Integridade Pública há cerca de 2.200 ex-funcionários federais a trabalhar em empresas de lobbying, entre eles 273 ex-funcionários da Casa Branca e 250 ex-Congressistas, isto só desde 1998!
É verdade que as empresas de lobbying não podem oferecer presentes aos membros do Governo ou Congresso de valor superior a 100 dólares por ano, nem viagens (embora possam viajar com eles e tratar-lhes das marcações de avião, hotel, etc). No entanto podem prestar os seus serviços aos políticos liderando, financeiramente, as suas campanhas eleitorais.
Assim, e só desde 1998, os profissionais de lobbying lideraram financeiramente mais de 800 campanhas eleitorais nos Estados Unidos, garantindo mais de 525 milhões de dólares de financiamento!
Não há nada como ser claro para evitar mal-entendidos!
As empresas de lobbying dão-se ao luxo de apresentar a legislação já elaborada ao respectivo congressista (que assim poupa precioso dinheiro ao Estado e contribuintes, não carecendo de contratar juristas para a sua redacção…).
Na Europa a moda parece começar a pegar. Para além do Reino Unido, onde existe uma tradição e actividade do lobbying aproximada à norte-americana (ressalvando as devidas proporções em volume de negócios…), há uma base de dados em Bruxelas e Estrasburgo que contém os registos de cerca de 5.000 profissionais do lobbying europeus (entre os quais figura um único consultor português… Joaquim Lampreia, da Omniconsul, um homem à frente do seu tempo!). Mas algumas fontes falam de mais de 15.000 grupos de pressão, dos quais cerca de 2.600 já teriam instalações permanentes em Bruxelas e Estrasburgo.
Os novos membros da União Europeia apressaram-se a adaptar-se ao desafio da sua integração no mercado único europeu, copiando o modelo norte-americano e legitimando o negócio dos lobbies, submetendo-o ao registo prévio e oficial. Países como a Geórgia, a Lituânia, a Polónia ou a Hungria já fizeram aprovar legislação sobre o lobbying, permitindo o registo de empresas que, profissionalmente, se dediquem ao mandato de influência junto do poder político.
Por isso parem de acusar o Governo norte-americano de proteger os interesses internacionais dos seus grandes grupos económicos, da indústria de armamento ou dos israelitas no médio-oriente.
Isso só revela a total ignorância dos contestatários face ao funcionamento de um regime verdadeiramente democrático!
Os americanos nada têm contra os árabes ou outros estrangeiros. Trata-se de uma mera relação contratual sinalagmática: o poder público norte-americano está ao serviço de quem lhe paga.
A nova ordem mundial afinal é muito mais simples de compreender e manipular. Basta levantar-se cedo, esperar umas horas na bicha e defender intransigentemente os seus interesses, de preferência com alguns milhões de dólares no bolso…
Vai ver que consegue milagres!

A Virtude Feminina


Já tive ocasião de tecer, num texto anterior, algumas considerações acerca da promiscuidade feminina.
Segundo alguns antropólogos não há, aparentemente, razão nenhuma para que a mulher seja menos promíscua do que o homem, de acordo com os estudos levados a cabo com outros mamíferos, os parentes mais próximos do homem no reino animal.
Porém e segundo outras fontes antropológicas, existem diferenças significativas no comportamento sexual das fêmeas em várias espécies de símios recentemente observadas em maior pormenor.
Não foram propriamente observadas práticas de monogamia, mas algumas espécies, como o gorila, parecem cultivar um comportamento sexual pouco promíscuo, enquanto noutras, como o chimpanzé, a promiscuidade feminina é acentuada, permitindo as fêmeas a prática de cópulas sucessivas com diversos machos.
Como se integrará então a espécie humana nesta escala da promiscuidade simiesca?
Será a mulher tendencialmente monogâmica como as gorilas fêmeas, ou poligâmica e promíscua como as “senhoras” chimpanzés?
Segundo alguns especialistas citados por Desmond Morris, na sua obra “Os Sexos Humanos”, existe uma relação directa entre a promiscuidade das fêmeas e o tamanho dos testículos dos machos.
Quanto mais promíscuo for o comportamento sexual da fêmea, maiores são os testículos do macho, como forma de assegurar a sua fertilização em feroz concorrência com os outros machos.
Na verdade, uma espécie pequena como o chimpanzé, possui testículos quatro vezes maiores do que o gorila, que tem o quádruplo do seu peso!
Testículos maiores asseguram ejaculações maiores, o que evidencia uma luta enorme pela fertilização das fêmeas entre os chimpanzés, ao contrário dos gorilas que se mostram muito avessos à competição sexual.
O homem possui testículos maiores do que o gorila, mas muito mais pequenos do que o chimpanzé.
Assim se depreende que as fêmeas humanas deveriam ter, nos primórdios da evolução da espécie, um comportamento sexual muito menos promíscuo do que o das fêmeas chimpanzé, mas seguramente menos monogâmico do que o das suas congéneres gorilas.
Ficariam pois numa escala intermédia, não totalmente monogâmicas mas também pouco adeptas do sexo sucessivo e em grupo.
Esta conclusão acaba por ser reconfortante para os homens.
É que a proeminência do órgão sexual masculino parece estar directamente relacionada, segundo as regras da natureza, com a infidelidade feminina.
Quanto maior o pénis e os testículos do macho mais infiéis as fêmeas… funcionando a sua maior dimensão como meio da natureza assegurar a continuidade da espécie, na acesa concorrência sexual entre os machos.
Maiores testículos produzem uma maior quantidade de esperma, enquanto pénis maiores aumentam as hipóteses de fertilização, porquanto o sémen será colocado bem no interior da vagina, aumentando as probabilidades de concepção.
O homem deveria assim ficar orgulhoso da pequenez do seu falo! Ela só abona o comportamento moral das suas mulheres.
Afinal de contas, e segundo as novas teorias sobre o comportamento sexual inato das mulheres, as fêmeas humanas não são tão promíscuas quanto isso… quando comparadas com as chimpanzés, por exemplo.
E a prová-lo estão os pénis pequenos e os minúsculos testículos dos seus companheiros.
As coisas que se aprendem a olhar para os testículos dos macacos…
Aparentemente são a melhor prova da virtude das mulheres!

Dito e Feito


Depois da minha exaltação patriótica anterior decidi arregaçar as mangas e lançar mãos à obra neste novo desígnio nacional, capaz de catapultar a nossa economia para níveis nunca antes alcançados.
Por isso decidi investigar o que é necessário para aproveitar os nossos recursos seminais e colocá-los ao serviço dos mais altos interesses públicos.
Como os americanos é que inventaram o negócio, decidi copiar um bocadinho e ver como é que eles fazem (para depois poder melhorar o método, antes de o implementar de norte a sul do país, claro está…).
Parece que em primeiro lugar é preciso um banco de esperma…
Bom, eu preferia fazer o trabalhinho no conforto do meu lar, que tão boas recordações me traz… mas pronto, se o interesse nacional assim o exige, também não deve ser muito difícil abrir mais uns bancos por todo o país (ao ritmo que têm aberto nos últimos anos até poderíamos aproveitar alguns dos balcões semi-desertos que por aí há… sempre lhes dávamos alguma coisa para fazer).
Até me admira que os bem pagos administradores do pujante sector bancário nacional não se tivessem lembrado disso… Devem andar todos distraídos com a crise do BCP, a fusão deste com o BPI e as entrevistas do Joe Berardo.
Depois de encontrado o banco de esperma é preciso preencher determinados critérios de admissão, a saber:
a) ter entre 18 e 34 anos (pronto, já me estragaram o negócio…);
b) ter mais de 1,80 m (devem estar a gozar…);
c) não ter excesso de peso (estamos a falar de americanos?!);
d) possuir uma licenciatura (querem ver que é preciso um curso superior para acertar no frasquinho…);
e) nunca ter tido doenças como a hepatite B, C, HIV, herpes genital, ébola e outras coisas más;
f) ter sexo masculino.
Desculpem o desabafo (em estilo Gosciniano e dedicado aos amantes da 9ª arte), mas estes americanos são doidos!
Indicar nos requisitos que é obrigatório ter sexo masculino parece-me um pouco supérfluo. Mas enfim, eu não sei que género de raparigas é que eles têm lá nos States…
Não ter tido doenças mazinhas, até me parece razoável. Agora ter mais de 1,80m e uma licenciatura! Isto parece uma forma de açambarcarem o negócio só para eles…
Mas parece que não. Que os casais que se inscrevem nesses bancos, dispostos a adquirir esperma para inseminação artificial, não querem comprar artigo de segunda qualidade… Só lhes interessa sémen de doutores e com mais de um metro e oitenta!
Enfim… americanices.
Eu acho que, por cá, não era preciso ser tão exigente.
Qualquer português com mais de um metro e meio e a 4ª classe bem tirada já metia os doutores americanos todos num canto. E como aquilo vai tão bem embrulhado no frasquinho… (até podíamos pôr um daqueles tecidos garridos como nos frascos de compota da quinta, à laia de produto biológico) ninguém sabe.
Como o dador é anónimo, não me parece um problema à altura da iniciativa nacional.
Como é costume, a gente desenrasca-se. Põe-se lá a dizer que preenche os requisitos e depois eles que reclamem, se quiserem!
O passo seguinte é fazer três doações, para eles investigarem o conteúdo do esperma: contarem os espermatozóides, averiguar se são bons nadadores, como é que reagem ao transporte no frio, se são bem feitinhos e ficam bem no retrato… enfim, essas mariquices todas.
Ao que parece rejeitam entre 50 e 90% dos candidatos nesta fase.
Mas isto é com dadores americanos… Tenho a certeza que os portugueses se safavam muito melhor. Olha espermatozóides para nós… aquilo é sempre a aviar!
O quarto passo é a análise da história clínica da família até à quarta geração.
Estes tipos são uns brincalhões, só pode…
Tomara nós que a funcionária da caixa encontre a nossa ficha e um médico de família para nos atender, quanto mais arranjar relatórios com o historial médico do meu tetravô!
Sei lá eu sequer, se tive tetravô! Quanto mais se ele sofria de gosma ou tinha bicos de papagaio…
Não senhor! Cá em Portugal vigora o Simplex… leva-se um atestado médico passado pelo médico de família (se não tiver nenhum, como acontece com muitos milhares de portugueses, pode sempre pedir um atestado na junta de freguesia, com o carimbo de dois comerciantes da terra) comprovando que sempre foi um rapaz saudável e amigo do seu amigo… E chega!
Era o que faltava, virem agora os americanos impingir-nos mais burocracias.
De seguida há que fazer um exame médico completo, com análises ao sangue e à urina (passamos a vida com o frasquinho atrás…), o qual se mantém periodicamente durante o tempo em que fizer depósitos. Se passar sempre nos testes pode continuar a depositar.
Finalmente assina-se um contrato que:
a) Declina quaisquer direitos sobre os filhos concebidos com o esperma entregue, o qual permanecerá anónimo;
b) Obriga à frequência de um programa de 6 meses a 3 anos, durante o qual temos de nos manter de boa saúde e reportar qualquer doença que eventualmente surja;
c) Obriga à abstinência sexual (de qualquer género, incluindo o onanístico) durante os cinco dias que antecedem cada depósito;
d) Limita a utilização do esperma depositado à concepção de 10 filhos, após o que somos colocados fora do mercado.
Mais burocracias, querem eles dizer…
A primeira obrigação não oferece obstáculos de maior. Se eu quisesse ter mais filhos não ia depositá-los ao banco!
Para me obrigarem à segunda e à terceira teriam de colocar um polícia 24 horas atrás de mim, pelo que estarem lá no contrato ou não estarem, é igual ao litro…
A quarta também não me tira o sono. Do modo como funcionam os nossos serviços de saúde, quando eles se apercebessem de quantos filhos tinham sido concebidos com os meus depósitos já me estavam a dever para cima de um dinheirão… E eu guardava os talõezinhos de depósito todos, pois nunca se sabe o dia de amanhã!
Pronto, agora só falta receber.
Os preços podem rondar os 200 dólares por semana, o que, sem ser nenhuma fortuna, sempre paga a prestação do carro… (ainda assim fica abaixo do valor pago por idêntica quantidade de sémen de um boi premiado, o que dá que pensar quanto à hierarquia de valores vigente na nossa sociedade!).
Agora que já sabem como é que a coisa funciona, só falta implementá-la entre nós.
Fica aqui o repto lançado aos políticos deste país.
Como eu, arregacem as mangas e ponham o meu plano de salvação nacional em marcha.
Estão muitos milhões de portugueses, com as calças em baixo, à vossa espera.

Sexo e Política Económica


Não costumo trazer política para estas páginas, mas hoje não resisto à tentação.
Como muitos milhares de portugueses, vou começar este texto pela celebérrima e lusitana frase: “Se fosse eu que mandasse…”
Descansem que não me vou candidatar a nenhum cargo político, nem iniciar mais um abaixo-assinado contra o Governo. Pelo contrário, a minha abordagem política será de índole sexual, como convém à sede em que está inserida, e totalmente construtiva.
Não espero por isso que me perdoem a ousadia, mas tão-somente ganhar um lugar na posteridade, como o salvador da economia nacional (nem mais, nem menos!).
Passamos a vida a ouvir os nossos políticos apregoar novos planos milagrosos que ajudam a equilibrar a balança comercial ou as contas públicas, mas quase todos eles, para além de teimarem em não exibir resultados, acabam sempre por traduzir-se em maiores impostos, menos regalias e consequentemente, em dificuldades acrescidas para a maioria dos portugueses.
A minha proposta é diferente e revolucionária.
Os computadores já eram, por isso esqueçam o choque tecnológico que pretendia transformar Portugal na Irlanda e pôr-nos a todos a beber cerveja Guinness enquanto vendíamos software antivírus via Internet.
Somos um povo latino, de sangue quente na guelra. Não servimos para passar horas intermináveis em frente do computador a competir com nerds anglo-saxónicos ou indianos, discípulos directos de Bill Gates.
O macho latino gosta é de sexo (de gajas memo boas… como se costuma ouvir dizer). Por isso temos de arranjar uma maneira de aproveitar finalmente as nossas potencialidades, ganhando muito dinheiro no processo.
Sosseguem que não vou propor o Zezé Camarinha para Ministro da Educação, nem sugerir que cada português se passe a dedicar, nem que seja em part-time, a servir de acompanhante nocturno para as muitas turistas endinheiradas que nos visitam.
Aparentemente esse plano já está em prática há décadas e não me consta que tenha contribuído em muito para resolver os problemas estruturais da nossa economia (embora tenha conseguido colocar o Algarve na rota turística internacional… o seu a seu dono!).
A minha solução é muito mais simples e exequível. Está ao alcance de qualquer macho português dos 10 aos 100 anos e nem sequer envolve a vinda das inglesas ao nosso país, muito pelo contrário. A minha proposta é de levar a semente lusitana, de Camões, Vasco da Gama ou Pedro Álvares Cabral, uma vez mais aos quatro cantos do mundo (que apesar de ser redondo, tem cantos, como toda a gente sabe, e são quatro…).
Confesso que a descoberta não é minha, mas dos americanos (que são gente metediça e que teima em descobrir tudo antes dos outros) mas ainda estamos muito a tempo de ganhar rios de dinheiro com ela, atentas as nossas reconhecidas e afamadas qualidades na matéria.
Já os deixei de água na boca, não foi? Tanto paleio e não há maneira de vender a banha da cobra… Pois aqui vai, sem mais demoras nem anestesia local:
- Vamos todos passar a encher frasquinhos de esperma e a exportá-los, com denominação de origem controlada e certificada!
Julgam que estou a brincar?
Eu não brinco com coisas sérias, e acreditem que não é para vender nas farmácias à laia de suplemento alimentar, conforme já tive ocasião de ventilar num enunciado anterior.
Para fins medicinais não há como o esperma fresco e acabado de colher, pelo que temos de continuar a fazer fé nas capacidades dos Zezés Camarinhas deste país para o necessário fornecimento, in loco, às estrangeiras que nos visitam com tais propósitos.
A minha ideia é diferente, mas com fins igualmente altruístas.
Sabem da importância da inseminação artificial nos tempos que correm. Em todo o mundo, milhões de casais tentam em vão ter filhos pelos métodos naturais, vendo-se obrigados a recorrer a dadores anónimos de esperma e à inseminação artificial para realizar os seus sonhos de paternidade e maternidade.
Pois bem, temos cinco milhões de portugueses, de origem controlada e pronta a ser certificada, na expectante condição de potenciais dadores internacionais de esperma.
Somos uma das mais antigas nações da Europa, com provas dadas num vasto passado que não nos cansamos de glorificar. Razões mais do que suficientes para valorizar a semente lusitana e cotá-la aos mais altos níveis nos mercados internacionais.
Os norte-americanos tomaram a dianteira do negócio e tornaram-se os principais exportadores de sémen do mundo, com vendas que ascendem já a cerca de cem milhões de dólares (sem contar com o produto doado pelos respectivos soldados e marinheiros em serviço além-mar).
Do que é que estamos à espera para colher a nossa fatia do bolo?
É preciso que alguém tenha a coragem necessária para apresentar estas propostas fracturantes da nossa sociedade, como meio de pressionar o poder político a tomar as iniciativas adequadas ao seu desenvolvimento.
Para que é que precisamos de petróleo quando temos cinco milhões de homens desejosos de colocar o seu tempo livre ao serviço dos mais altos interesses nacionais?
O nosso sémen é o nosso petróleo e estou ansioso para dar o meu contributo à proliferação e afirmação da raça lusitana, ao nível global.
Somos só cinco milhões, mas somos portugueses! Por isso não devemos ter dificuldades de maior em fertilizar meio mundo, como já provámos ser capazes no passado (com muito menos gente e com as dificuldades de transporte que existiam na altura…).
Mal vistos como estão os americanos, nesta altura do campeonato, não deve ser muito difícil roubar-lhes os clientes e alargar este mercado em constante crescimento.
Se for preciso até fazemos um desconto!