Pára-Arranca

Se a disfunção eréctil é um problema grave que afecta muitos homens por todo o mundo, o seu reverso, a ejaculação precoce, ainda afecta mais.
É a principal disfunção sexual masculina, em termos estatísticos, afligindo entre vinte e trinta por cento dos homens (algumas estatísticas falam em quase quarenta por cento!), de acordo com estudos organizados nos Estados Unidos.
Um estudo recente levado a cabo pela Menshealt.com e pela revista Cosmopolitan, concluiu, com base no depoimento de novecentas mulheres, que cerca de dois terços das mesmas já tinham tido sexo com um homem afectado por ejaculação precoce.
Alfred Kimsey, no seu livro Sexual Behavior in the Human Male, concluiu que o homem médio mantém capacidade eréctil no coito durante cerca de dois minutos, até atingir o orgasmo.
Desconfio que este homem médio de Kimsey sofresse de ejaculação precoce, porquanto de acordo com a revista feminina Cosmopolitan a média oscila entre os 10 e os 15 minutos, e elas ainda assim se queixam…
Masters e Johnson consideraram que sofre desta condição todo o homem que ejacule antes da sua parceira atingir o orgasmo, em mais de cinquenta por cento dos seus encontros sexuais.
Uma ideia novel foi contudo veiculada por Mark Noble, médico da Cleveland Clinic Glickman Urological Institute. Segundo este, e sob um ponto de vista antropológico, a ejaculação precoce pode ter sido um meio, em tempos primitivos, de alguns machos assegurarem um maior sucesso na fertilização das fêmeas.
No fundo, a ideia é a da sobrevivência do mais rápido.
O homem primitivo que mais depressa conseguisse ejacular, fertilizava mais fêmeas. Assim espalhava a sua semente por três ou quatro fêmeas, enquanto os outros ainda estavam na primeira…
Isto até pode ser uma prática interessante na selva, em que ao macho médio bastará arreganhar os dentes a atirar-se à primeira fêmea que lhe apareça à frente, mas dá muito pouco jeito em sociedade…
Desde logo porque não há muitas fêmeas à disposição e à espera de serem tomadas pela força pelo macho dominante do bairro. Mas também, e sobretudo, porque as fêmeas modernas (salvo raras excepções, que conseguem ter sexo e ver a telenovela em simultâneo) não apreciam particularmente o metido fertilizante! Preferem os machos “preguiçosos” que demoram muito tempo no coito, até conseguirem atingir o orgasmo.
Aliás, desconfio que as senhoras das cavernas prefeririam o mesmo, se os machos da altura as tivessem deixado escolher…
Assim, uma vez mais se mostra que a ciência às vezes ajuda tanto quanto uma viola num enterro. Os pobres homens que sofrem de ejaculação precoce ficaram a saber que, afinal, não são portadores de qualquer disfunção sexual, mas apenas de um atavismo que os torna mais próximos dos nossos antepassados símios.
Tal conclusão, para além de não melhorar substancialmente a sua vida sexual, não me parece sequer uma comparação lisonjeira e temo que a maior parte das mulheres concorde comigo …
Mas a culpa até pode nem ser do macaco.
Ensinaram-nos que a masturbação é má e errada, que faz crescer pêlos nas mãos e nas costas (características curiosamente simiescas), provoca cegueira e que é um pecado derramar sémen por todo o lado… Assim, é natural que, durante a infância, a maior parte dos rapazes se masturbe às escondidas e o mais rapidamente possível, evitando ser apanhados com as calças na mão.
Aprendendo, desta forma errada, a atingir a satisfação sexual, não admira que, quando finalmente têm uma mulher nua à sua frente disposta a fazer sexo com eles, mal consigam introduzir o pénis completo na vagina da companheira…
São maus hábitos da infância que se pagam caros na idade adulta!
Mas se a ejaculação precoce na adolescência até pode ser considerada natural, sendo aliás frequente nos primeiros contactos sexuais dos rapazes, já é uma disfunção preocupante quando se prolonga ao longo da idade adulta.
No fundo o controlo ejaculatório aprende-se, da mesma maneira que as crianças aprendem a controlar a bexiga ou o esfíncter. Apenas a aprendizagem sucede mais tarde.
Há vários métodos para evitar a ejaculação precoce, com resultados variados.
Um dos métodos mais controversos é a chamada técnica do “pára-arranca”.
Esta técnica pode dar resultados satisfatórios mas convém não abusar… É que se passar a vida a gritar à sua companheira: - Devagar, devagar… okay, está quase… pára, agora…pára!; ela é capaz de se chatear consigo e de lhe perguntar se está a ter sexo com ela ou a ensiná-la a estacionar o carro!
Outra das opções poderá passar pelo uso daqueles preservativos extra-reforçados que dizem fazer durar mais tempo a erecção (ou então usá-los aos pares de cada vez).
É verdade que quase não vai sentir o seu pénis, mas pelo menos não vai ter de suportar a humilhação de a ouvir dizer:
- Deixa estar… Não faz mal… Para a próxima corre melhor.
Outra técnica utilizada é a de aliviar a tensão, pela masturbação, algum tempo antes de chegar a hora da verdade.
Como os homens sofrem de um período refractário relativamente longo, o truque permite chegar menos estimulado ao coito e assim aguentar mais tempo antes de atingir o orgasmo.
Infelizmente menos estímulo significa também menor erecção. Se a isto juntarmos os preservativos duplos corremos o risco de passar da ejaculação precoce à disfunção eréctil num ápice!
Pode sempre começar, durante o coito, a programar a agenda de trabalho da próxima semana, ou rever as estatísticas do futebol, como forma de se distrair do mesmo e prolongar a erecção…
Mas duvido que a sessão se mostre muito gratificante dessa forma.
A medicina moderna consegue, através de diversos tratamentos, minorar esta condição, mas o uso de medicamentos costuma ser deixado para os casos mais graves, preferindo os médicos começar pelo treino físico e psicológico do paciente, de forma a diminuir a velocidade com que se estimula sexualmente.
Nos casos mais graves o uso de anti depressivos é geralmente associado ao tratamento crónico da ejaculação precoce.
Por isso não desespere. Fale com o seu médico e verá que ele pode fazer muito por si…
Este tratamento até tem a vantagem de matar dois coelhos de uma só cajadada! Ajuda a controlar a ejaculação precoce e ainda lhe trata da depressão que, geralmente à entrada dos entas, afecta os homens modernos (ainda para mais sofrendo de ejaculação precoce!) …