quarta-feira, 9 de abril de 2008

Na Feira do Sexo


Uma das experiências mais enriquecedoras do ano, sob o ponto de vista sexual, foi, sem dúvida alguma, para mim e para muitos milhares de portugueses, a visita ao Salão Erótico de Lisboa, que ocupava por inteiro um dos vastos pavilhões da FIL.
Estamos há 20 anos na CEE que diabo, já era tempo de nos europeizarmos também na sexualidade e importarmos este modelo de grande superfície do sexo, que há muito faz as delícias dos nossos eróticos parceiros comerciais, sobretudo os do norte da Europa.
Sem contar, aliás, com o retumbante interesse económico do projecto! Basta atentar na avalanche de vibradores e outros brinquedos sexuais que, de há alguns anos a esta parte, invadiu por completo a pacatez do nosso comércio tradicional, para compreender que não é preciso viajar até Amesterdão para vislumbrar uma indústria do sexo pujante e atraente para os muitos turistas que, todos os dias, nos visitam.
Iniciativas deste tipo mostram o potencial de negócio que o sector inegavelmente apresenta, não devendo faltar muito para a abertura, com toda a pompa e circunstância, da primeira grande superfície dedicada ao sexo em Portugal (que como é hábito deverá ser a maior da Europa, pelo menos, e apadrinhada pelo Engº Belmiro de Azevedo…), relegando as cada vez menos discretas sex-shop locais, para a tarefa, sem dúvida alguma meritória, de satisfazer as donas de casa dos nossos bairros mais típicos e tradicionais (nos meios pequenos há sempre a alternativa da Ford Transit que, de aldeia em aldeia, vai buzinado e apregoando a última novidade em matéria de plugs ou lubrificantes anais…).
Sou um cidadão europeu e mesmo que não me deixem votar num referendo sobre a Constituição Europeia, posso exprimir os meus sinceros sentimentos modernaços e europeístas visitando o salão erótico de Lisboa (que assim se transforma numa expressão de convicção política, muito mais defensável perante os amigos e familiares do que se de uma mera concupiscência lasciva se tratasse…).
Assim foi.
A experiência começou de forma bizarra, com dois robustos agentes da autoridade a revistarem, à entrada, todos os visitantes!
Ficámos estrategicamente colados em fila indiana, à espera dos competentes “apalpões” dos dois latagões, não sei se à procura de armas de destruição maciça (é conhecida a particular aversão dos extremistas árabes à industria pornográfica…) ou a preparar, pelo seu sábio manuseamento das partes mais recônditas dos corpos, os visitantes para a noite de delícias, qual lusitana versão das arabian nights (mas sem terroristas), que os esperava.
Confesso que não faz muito o meu género, mas houve gente que indiscutivelmente apreciou a recepção proporcionada, de forma totalmente gratuita refira-se, pelos dois agentes da PSP!
À laia de preliminar…
Uma vez devidamente apalpados entrámos no antro de pecado em que se tinha transformado a FIL (valeu a pena o gigantesco investimento feito na Expo para dotar o país de um recinto capaz de acolher, com a devida dignidade, um evento deste gabarito!), para depararmos de imediato com dois brasileiros de músculos à Schwarzenegger, mascarados de índios particularmente encalorados e no pico do Verão, envergando umas tangas do tipo fio dental.
Se a zelosa intervenção da autoridade já me tinha deixado de pé atrás, confesso que esta visão infernal, testemunhada logo à entrada, deixou-me com uma vontade enorme de regressar rapidamente a casa!
Mas resisti, e ainda bem que o fiz, porque os sintomas gay revelados ao início (pelos brasileiros entenda-se já que os agentes de autoridade se limitaram a cumprir o seu dever profissional, de forma visivelmente contrariada… embora pensando melhor, acho que só os vi a revistar os homens… Adiante!) não vieram, felizmente, a confirmar-se no restante recinto (se exceptuarmos duas senhoras de leste que, num dos pavilhões, tiveram o bom gosto de se emalhetarem à minha frente, num show dito lésbico, mas que teve o mérito de ser muito mais apreciado pelos homens heterossexuais presentes, onde modestamente me inclui).
Adiante deparei com o stand da Passerelle, essa instituição do erotismo nacional, onde brasileiras de seios fartos, passeavam por entres as mesas do improvisado bar, servindo bebidas aos muitos clientes, enquanto se equilibravam magistralmente em cima de saltos do tipo arranha-céus, que as faziam a todas parecerem gigantes e a nós anões, relegando o nosso ego de machos latinos para as ruas da amargura.
Quando não serviam bebidas iam para o palco despirem-se, prática muito louvável de acordo com a regra da polivalência, providencialmente prevista no Código do Trabalho vigente, e que, em parte, assegura o sucesso daquele simpático estabelecimento nocturno… (o facto de cobrarem 150 euros por cada garrafa de Raposeira encomendada pelas brasileiras também ajuda).
O espaço de maior sucesso era, sem dúvida, o Clube Bizarro, onde infelizmente não consegui penetrar, tais eram os magotes de gente à espera em fila à porta.
Pensei que, para atrair tanta gente, o espectáculo deveria valer a pena... Não resisti assim a espreitar por entre os expectantes, manifestando a minha faceta de voyeur que até então tinha conseguido ocultar do público em geral (pelo menos que eu tivesse dado por isso).
Foi com surpresa que me apercebi que o show consistia numa senhora vestida de cabedal a encher de porrada um mancebo cheio de músculos, enquanto lhe pisava os calos e lhe apagava cigarros acesos na boca!
Chamem-me bota-de-elástico, mas decidi não engrossar a fila…
Passei então para um stand de uma produtora de filmes pornográficos, onde outra mulher gigante, esta de aspecto eslavo, se debatia com um varão de inox, fazendo gemer de admiração os muitos portugas especados à volta (geralmente de óculos grossos e colete de malha).
Não sem dificuldades, consegui vislumbrar, entre ombros e cabeças erguidas, parte do espectáculo, que consistia num misto de campeonatos do mundo de ginástica acrobática (é conhecido o talento das raparigas de leste para a modalidade) e de visita de Natal ao Circo Chen, local onde os invulgares atributos físicos das ginastas caberiam na perfeição.
Noutro local estava afixado um cartaz convidando, simpaticamente, os visitantes a frequentarem um curso rápido e intensivo de strip-tease.
Confesso que me senti tentado. Mas infelizmente não havia nenhum previsto para breve, pelo que, com alguma desilusão, tive de relegar a minha educação na matéria para outra ocasião (o que tal não teria feito pela minha vida sexual…).
Nalguns stands as acrobatas convidavam transeuntes a partilharem o palco. Provavelmente para demonstrarem, em público, os vastos conhecimentos apreendidos no curso intensivo de strip tease (felizardos), que eu não tive oportunidade de frequentar.
No entanto a sua participação resumia-se, geralmente, a ficarem quietos e encostados a um poste, enquanto a bailarina rodopiava caprichosamente à sua volta e lhes atirava peças de roupa íntima à cara, para gáudio dos mirones e de uma bateria de flashes que garantiam a imortalidade do momento, provavelmente nos melhores sítios da especialidade na Internet.
Uma oportunidade destas é capaz de catapultar um Zé Ninguém para a fama. Mais depressa do que o Big Brother!
A vida é cheia de oportunidades… Assim as saibamos aproveitar. Nem que seja ficando quietos e calados no meio da multidão.
Noutro stand a diversão consistia em evitar a subida ao palco de um indivíduo, de copo de cerveja na mão, que teimava em cumprimentar pessoalmente cada uma das strippers.
Escusado será dizer que a presença insistente do fulano (que algo me diz não estar a beber a primeira cerveja da noite…) tornava muito mais interessante a experiência sensual dos eleitos para subir ao palco. Assim, para além do reconhecimento geral dos seus atributos físicos, por vezes manifestados de forma bastante ostensiva, recebiam os cumprimentos sinceros de um desconhecido embriagado, que como é sabido, é um facto injustamente desvalorizado, sobretudo quando se está de cuecas em público!
Num dos espaços mais concorridos, a celebérrima Cicciolina, agora cinquentona e de seios enormes que demonstravam um gritante desprezo pelas leis de Newton (mas que, em compensação, se conservaram sempre dentro da respectiva roupa o que desiludiu sobremaneira os visitantes… quase todos eles com idade suficiente para se lembrarem da sua reveladora campanha eleitoral para o Parlamento italiano), dava autógrafos nos corpos dos mancebos perante o olhar atento do marido (provavelmente ciumento…).
Houve ainda tempo para deambular por entre os muitos stands de venda de brinquedos sexuais, onde se vende de quase tudo para quase todos, geralmente a pilhas (não incluídas).
Em suma, foi uma noite inesquecível e didáctica, embora não particularmente erótica…
Uma ocasião única para constatar, “in loco”, o universo parafílico em todo o seu esplendor e sofisticação.
O mais erótico da noite, ainda assim, acho que foi a zelosa intervenção dos dois agentes da autoridade à porta…

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