quarta-feira, 9 de abril de 2008

Pornografia Cor-de-Rosa


Se há uma coisa em que homens e mulheres não conseguem estar de acordo é o consumo de pornografia. Certo?
É um dado adquirido que a pornografia existe para consumo masculino. As mulheres quando muito, se forem mesmo compinchas, fazem-nos o favor de se sentarem ao nosso lado enquanto assistirmos a um filme pornográfico, esperando a ocasião ideal para usarem, em seu proveito, os efeitos secundários por ele causados no parceiro.
A pornografia é um negócio que movimenta biliões de euros em todo o mundo, quase para consumo exclusivamente masculino.
São os homens quem frequenta os cinemas de filmes pornográficos (os poucos que ainda subsistem). São eles que, às vezes de forma tímida e meio às escondidas, trazem as cassetes ou os DVD eróticos dos vídeo clubes, das sex-shops ou dão aquelas espreitadelas furtivas, à noite, ao canal erótico da TV cabo.
Elas normalmente não gostam. E muitas vezes acham deplorável o gosto dos maridos, colados à televisão a verem aquelas cenas lamentáveis de sexo explícito com gente a nunca mais acabar.
É convicção geral de que a vida é assim mesmo… Os homens têm mais olhos que barriga e não podem ver um rabo de saia que já ficam a pensar em sexo, quanto mais um filme com sexo e mais sexo de todas as formas e feitios.
Já as mulheres são seres mais sensíveis. Não basta ver, é necessário sentir, estimular, fantasiar. A sua sexualidade não é instantânea como a dos homens, requer tempo e paciência para ser despertada, compensando depois em intensidade e duração (é dado adquirido, para as mulheres, que o estímulo sexual masculino é sol de pouca dura!).
Mas também aqui há muito de mito.
Se a pornografia é sobretudo consumida por homens tal deve-se, e muito, ao facto de ela ser sobretudo produzida para homens e de acordo com os seus gostos.
Na verdade as produtoras nunca viram as mulheres como um mercado a explorar. Durante décadas eram demasiado tímidas sequer para a verem com os maridos, quanto mais para a procurarem por sua iniciativa.
Ainda hoje, com toda a emancipação feminina, autonomia financeira, liberdade sexual e tudo o mais, a pornografia continua a aparecer como acidente na vida das mulheres. Ou é um filme esporádico que o marido traz, ou um e-mail maroto que algum amigo ou amiga envia ou ainda uma revistinha mais explícita folheada entre sorrisos e amigas.
O consumo acidental de pornografia acontece não tanto porque elas não gostem de a ver (porque senão não a viam e pronto!) mas sobretudo porque, socialmente, à mulher não fica bem andar por aí a comprar pornografia no quiosque da esquina ou a alugá-la no vídeo clube.
Ele é que gosta, por isso ele que a vá buscar.
Mas a mulher também não consome pornografia porque a maioria da existente no mercado é feita exclusivamente a pensar neles e não nelas. Se os tais filmes ou revistas fossem mais de acordo com os seus gostos e fantasias, as mulheres teriam outros incentivos para quebrar as barreiras sociais que as separam da pornografia e assumirem-se como consumidoras, tal como sucede com os homens.
Mas tudo isso pode mudar num futuro próximo.
Um estudo levado a cabo pela Universidade de Stanford concluiu que também as mulheres ficam estimuladas depois de assistirem a alguns minutos de um filme erótico ou pornográfico.
A diferença é que, enquanto para os homens um filme desse género não carece de história, apenas de uma sucessão mais ou menos gratuita de cenas consecutivas e se possível variadas de sexo, as mulheres são mais exigentes. Não gostam de sexo gratuito, antes preferem erotismo com uma história que, a pouco e pouco, as vá estimulando.
É no fundo, a mesma lógica das fantasias sexuais: para os homens uma mulher nua já é uma fantasia sexual; para as mulheres é preciso muito mais… Há que teatralizar, fazê-las partilharem dos desejos, ânsias e medos das personagens, tremerem de antecipação com as fantasias tornadas realidade no ecrã e perante os seus olhos… Fantasiar sobre sexo, no feminino, tem um estilo mais soft e sensual do que a demasiado explicita pornografia masculina.
Escusado será dizer que tais conclusões já colocaram toda a indústria pornográfica a fazer contas à vida… Se vendendo só para meio mundo já conseguem facturar biliões, há agora um enorme mercado a explorar que poderá fazer duplicar o volume de negócios destas empresas.
E puseram mãos à obra. Estão a ser produzidos inúmeros filmes pensados e realizados sobretudo por mulheres e para as mulheres e não tardará muito que o mercado de videogramas fique inundado de produções eróticas femininas, capazes de seduzir as mulheres para a pornografia.
Se moda pega vamos ter brigas lá em casa. Com homens e mulheres a disputarem as horas passadas na Internet em busca de pornografia ou na altura de escolher o filme para a noite romântica, com elas entusiasmadíssimas com a nova fita erótica softcore, que as eleva ao nirvana da sensualidade, e eles a ressonar na cama, à espera que as cenas de sexo apareçam…
E lá se vai mais um mito da sexualidade masculina… A pornografia deixa de ser o nosso reino privado e passa a ser também o delas.
Já não vai ser preciso esconder as revistas e os filmes lá em casa, rapazes! Mas preparem-se, porque quando elas lhe tomarem o gosto, enchem-vos os armários de pornografia cor-de-rosa e deixa de haver lugar para a vossa.
Não é assim que acontece com a roupa?

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